O hebraico bíblico (também chamado de hebraico clássico) é a forma arcaica do hebraico na qual a Bíblia hebraica e diversas inscrições israelitas foram escritas.
Não é falado em sua forma 'pura' nos dias de hoje, embora costume ser estudado com bastante frequência por judeus, teólogos cristãos, linguistas e arqueólogos israelenses como forma de adquirir uma maior compreensão da Bíblia hebraica e da filologia dos idiomas semitas. Atualmente o hebraico clássico costuma ser ensinado nas escolas públicas de Israel.
O hebraico bíblico e o hebraico moderno são diferentes em sua gramática, vocabulário e fonologia. Embora as regras gramaticais das duas variantes tenha muitas divergências, o hebraico bíblico costuma ser empregado na literatura hebraica atual, de maneira paralela ao uso de construções arcaicas e bíblicas que costuma ser feito na literatura moderna de língua inglesa.
Amostra textual
O que segue-se é uma amostra do Salmo 18 como aparece no texto massorético com niqqud e cantilação medieval tiberiense, e a transcrição grega da coluna Secunda da Hexapla com a sua pronúncia reconstituída.
29 כִּֽי־אַ֭תָּה תָּאִ֣יר נֵרִ֑י יְהוָ֥ה אֱ֝לֹהַ֗י יַגִּ֥יהַּ חָשְׁכִּֽי׃ 30 כִּֽי־בְ֭ךָ אָרֻ֣ץ גְּד֑וּד וּ֝בֵֽאלֹהַ֗י אֲדַלֶּג־שֽׁוּר׃ 31 הָאֵל֮ תָּמִ֪ים דַּ֫רְכֹּ֥ו אִמְרַֽת־יְהוָ֥ה צְרוּפָ֑ה מָגֵ֥ן ה֝֗וּא לְכֹ֤ל ׀ הַחֹסִ֬ים בֹּֽו׃ 32 כִּ֤י מִ֣י אֱ֭לֹוהַּ מִבַּלְעֲדֵ֣י יְהוָ֑ה וּמִ֥י צ֝֗וּר זוּלָתִ֥י אֱלֹהֵֽינוּ׃ | 29. χι αθθα θαειρ νηρι YHWH ελωαι αγι οσχι 30. χι βαχ αρους γεδουδ ουβελωαι εδαλλεγ σουρ 31. αηλ θαμμιν (*-μ) δερχω εμαραθ YHWH σερουφα μαγεν ου λαχολ αωσιμ βω 32. χι μι ελω μεββελαδη YHWH ουμι σουρ ζουλαθι ελωννου (*-ηνου) | 29. [kiː ʔatːaː taːʔiːr neːriː **** ʔaloːhaj agiːh ħoʃkiː] 30. [kiː baːk ʔaːruːsʼ gəduːd wəbaloːhaj ʔadːalːeg ʃuːr] 31. [haːʔeːl tamːiːm darkoː ʔemərat **** sʼəruːfaː maːgen huː ləkol haħoːsiːm boː] 32. [kiː miː ʔaloːh mebːalʕadeː **** wəmiː sʼuːr zuːlaːtiː ʔaloːheːnuː] |
Fonologia
Consonantes
Nome | Letra | |
ālef ('boi') | ʔ | |
bēt ('casa') | b ~ v alofonia1 | |
gimel ('camelo') | ɡ ~ ɣ alofonia1 | |
dālet ('porta') | d ~ ð alofonia1 | |
hē ('janela) | h, nulo no final das palavras.2 | |
wāw ('prego') | w, nulo após /o/ ou /u/ 2 | |
zayin ('arma') | z | |
hēt ('cerca') | ħ, (χ3) | |
tēt ('cobra') | ˤ | |
yōd ('mão') | j, nulo após /ɛ/, /e/, ou /i/2 | |
qaf' ('palma da mão') | k ~ x alofonia1 | |
lāmed ('cattle goad') | l | |
mēm ('água') | m | |
nun ('peixe') | n | |
sāmek ('prop') | s | |
ʿayin ('olho') | ʕ, (ɣ3) | |
pē ('boca') | p ~ f alofonia1 | |
shādē ('anzol') | ˤ | |
qōf ('atrás da cabeça') | ˤ (ou q) | |
rēsh ('cabeça') | ||
shin ('dente') | ɬ, ʃ | |
tāw ('cruz') | t ~ θ alofonia1 |
Referências
- ↑ [1]
- ↑ a b Janssens (1982:173)
Bibliografia
- Kittel, Bonnie Pedrotti; Hoffer, Vicki e Wright, Rebecca Abts. Biblical Hebrew: A Text and Workbook Yale Language Series; New Haven e Londres: Yale University Press, 1989.
- Dolgopolsky, Aron. From Proto-Semitic to Hebrew. [S.l.: s.n.], 1999.
- Gramática Hebraica, de Gesênio - Kautzsch, E. (ed.), ed. em inglês de A. E. Cowley. Oxford: Clarendon Press, 1910.
- Lambdin, Thomas O. Introduction to Biblical Hebrew. Londres: Charles Scribner's Sons, 1971.
- Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament (trad. em inglês de Erroll F. Rhodes) Grand Rapids: Wm.B.Eardmans Publishing. 1995. ISBN 0-8028-0788-7.
Tanakh
Desenvolvimento Autoria Interpretação
Pontos de vista | |||||
Tanakh ou Tanach (em hebraico תנ״ך) é um acrônimo utilizado dentro do judaísmo para denominar seu conjunto principal de livros sagrados, sendo o mais próximo do que se pode chamar de uma Bíblia judaica.
O conteúdo do Tanakh é equivalente ao Antigo Testamento cristão, porém com outra divisão.
A palavra é formada pelas sílabas iniciais das três porções que a constituem, a saber:
- A Torá (תורה), também chamado חומש (Chumash, isto é "Os cinco") refere-se aos cinco livros conhecidos como Pentateuco, o mais importante dos livros do judaísmo.
- Neviim (נביאים) "Profetas"
- Kethuvim (כתובים) "os Escritos"
O Tanakh é às vezes chamado de Mikrá (מקרא).
O Tanakh e o Antigo Testamento
A divisão refletida pelo acrônimo Tanakh está atestada em documentos do período do Segundo Templo e na literatura rabínica. Durante aquele período, entretanto, o acrônimo Tanakh não era usado, sendo que o termo apropriado era Mikra ("Leitura"). Este termo continua sendo usado em nossos dias, junto com Tanakh, em referência as escrituras hebraicas.
No hebraico moderno, o uso do termo Mikrá dá um tom mais formal do que o termo Tanakh.
De acordo com a tradição judaica, o Tanakh consiste de vinte e quatro livros. A Torá possui cinco livros, o Nevi'im oito e o Ketuvim onze.
Esses vinte e quatro livros são os mesmos livros encontrados no Antigo Testamento protestante, mas sua ordem é diferente. A enumeração também difere: os cristãos contam esses livros como trinta e nove, pois contam como vários alguns livros que os judeus contam como um só.
O termo Velho Testamento, apesar de comum, é muitas vezes considerado pejorativo pelos judeus, pois pode ser interpretado como inferior ou antiquado.
O termo Bíblia hebraica é adotado por alguns estudiosos para indicar que existe uma equivalência entre o Tanakh e o Antigo Testamento, tentando evitar algum sectarismo.
Os Antigos Testamentos católico e ortodoxo contêm seis livros que não estão incluídos no Tanakh. Eles são chamados "Deuterocanônicos", ou seja, foram canonizados em segundo ou mais tarde, mais precisamente durante a contra-reforma. Todavia, tais livros sempre fizeram parte da literatura hebraica, sendo estudados nas sinagogas, tendo um estimado valor dentro do judaísmo e para a história de Israel, como é o caso de I Macabeus e II Macabeus, os quais narram a heróica resistência ao helenismo na Palestina.
Nas bíblias das Igrejas Católica Romana e Ortodoxas, Daniel e o Livro de Esther podem incluir material deuterocanônico que não está na Tanakh ou no Antigo Testamento protestante.
Línguas
Rolo de Torá
A maior parte dos livros do Tanakh estão escritos em hebraico. Partes de Daniel, Esdras, uma sentença em Jeremias e um topônimo no Gênesis estão em aramaico, mas com escrita hebraica.
Deuterocanônicos
O que aconteceu no Concílio de Trento foi apenas uma confirmação dos Livros aceitos como pertencentes às Sagradas Escrituras que não é outra coisa senão a repetição da mesma lista aprovada pelo Concílio de Hipona em 367 d.C. em seu canon nº. 36:
Cânon 36 – “Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes:
- Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos(1),
- dois livros dos Paralipômenos(2)
- Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão(3),
- doze livros dos Profetas(4),
- Isaías, Jeremias(5),
- Daniel, Ezequiel, TOBIAS, JUDITE, Ester, dois livros de Esdras(6)
- e dois [livros] dos MACABEUS. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos(7),
- um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo (8), uma do mesmo aos Hebreus(9),
- duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João(10).
- Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar(11).
É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários" (Concílio de Hipona, 08.Out.393).
NOTA: Pelo que consta da lista acima e conforme anotações abaixo, estão contidos neste cânon os sete livros DEUTEROCANÔNICOS (em MAIÚSCULAS). No entanto estes livros nunca fizeram parte do Cânon judaico, visto que a Septuaginta (LXX) não inclui estes livros.
1-Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).
2-Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).
3-Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, SABEDORIA e ECLESIÁSTICO.
4-A saber: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
5-Incluindo as "Lamentações" e "BARUC".
6-Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.
7-Mateus, Marcos, Lucas e João.
8-Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.
9-Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.
10-Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.
11-Trata-se da Igreja de Roma.
Canon Judaico
De acordo coma tradição judaica (Midrash Rabbah 12:12) o Canon Judaico é composto de 24 livros que se agrupam em 3 conjuntos: A Lei ou Instrução, Os Profetas e Os Escritos. Os livros de 1 e 2 Samuel, são reunidos em um só livro, e 1 Reis e 2 Reis, também são considerados um só livro, assim como os 12 profetas "menores" estão em um só livro - "Os 12 profetas". A ordem do Cânon é apresentada abaixo:
Torá ( תורה ) Instrução (Os 5 de Moisés) (5) | Neviim ( נביאים) Profetas (8) | Kethuvim (כתובים) Escritos (11)
|
O historiador judeu Flávio Josefo descreve em sua obra Contra Ápion[1], que o Canon possuía 22 livros. Algumas escolas sugerem que ele considerou Rute como parte de Juízes, e Lamentações como parte de Jeremias. Jerônimo, autor da célebre tradução da Bíblia para o latim conhecida como Vulgata, também fez essa mesma afirmação no Prologus Galeatus.
Torá
Desenvolvimento Autoria Interpretação
Pontos de vista | |||||
Torá (do hebraico תּוֹרָה, significando instrução, apontamento, lei) é o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh (também chamados de Hamisha Humshei Torah, חמשה חומשי תורה - as cinco partes da Torá) e que constituem o texto central do judaísmo. Contém os relatos sobre a criação do mundo, da origem da humanidade, do pacto de Deus com Abraão e seus filhos, e a libertação dos filhos de Israel do Egito e sua peregrinação de quarenta anos até a terra prometida. Inclui também os mandamentos e leis que teriam sido dadas a Moisés para que entregasse e ensinasse ao povo de Israel.
Chamado também de Lei de Moisés (Torat Moshê, תּוֹרַת־מֹשֶׁה), hoje a maior parte dos estudiosos do Criticismo Superior concordam que Moisés não é o autor do texto que possuímos, mas sim que se trate de uma compilação posterior, enquanto os estudiosos do Criticismo Inferior acreditam que o texto foi escrito pelo próprio Moshê, incluindo as partes que falam sobre sua morte. Por vezes o termo "Torá" é usado dentro do judaísmo rabínico para designar todo o conjunto da tradição judaica, incluindo a Torá escrita, a Torá oral (ver Talmud) e os ensinamentos rabínicos. O cristianismo baseado na tradução grega Septuaginta também conhece a Torá como Pentateuco, que constitui os cinco primeiros livros da Bíblia cristã.
Divisão da Torá
As cinco partes que constituem a Torá são nomeadas de acordo com a primeira palavra de seu texto, e são assim chamadas:
- בראשית, Bereshit - No princípio conhecido pelo público não-judeu como Gênesis
- שמות, Shemot - Os nomes ou Êxodo
- ויקרא, Vaicrá - E chamou ou Levítico
- במדבר, Bamidbar- No deserto (ermo) ou Números
- דברים, Devarim - Palavras ou Deuteronômio
Geralmente suas cópias feitas à mão, em rolos, e dentro de certas regras de composição, usadas para fins litúrgicos, são conhecidas como Sefer Torá, enquanto suas versões impressas, em livro, são conhecidas como Chumash.
Origens e desenvolvimento da Torá
A tradição judaica mais antiga defende que a Torá existe desde antes da criação do mundo e foi usada como um plano mestre do Criador para com o mundo, humanidade e principalmente com o povo judeu. No entanto, a Torá como conhecemos teria sido entregue por Deus a Moisés, quando o povo de Israel, após sair do cativeiro no Egito, peregrinou em direção à terra de Canaã. As histórias dos patriarcas, aliados ao conjunto de leis culturais, sociais, políticas e religiosas serviram para imprimir sobre o povo um sentido de nação e de separação de outras nações do mundo.
De acordo com algumas tradições, Moisés é o autor da Torá, e até mesmo a parte que discorre sobre sua morte (Devarim Deuteronômio 32:50-52) teria sido fruto de uma visão antecipada dada por Deus. Outros defendem que, ainda que a essência da Torá tenha sido trazida por Moisés, a compilação do texto final foi executada por outras pessoas. Este problema surge devido ao fato de existirem leis e fatos repetidos, narração de fatos que não poderiam ter sido escritos na época em que foram escritos e incoerência entre os eventos, que mostra a Torá como sendo fruto de fusões e adaptações de diversas fontes de tradição. A Torá seria o resultado de uma evolução gradual da religião israelita.
A primeira tentativa de sistematizar o estudo do desenvolvimento da Torá surgiu com o teólogo e médico francês Jan Astruc. Ele é o pioneiro no desenvolvimento da teoria que a Torá é constituída por três fontes básicas, denominadas jeovista, eloísta e código sacerdotal, e mais outras fontes além destas três. Deve-se enfatizar que, quando se fala destas fontes, não se refere a autores isolados, mas sim a escolas literárias.
Um estudo sobre a história do antigo povo de Israel mostra que, apesar de tudo, não havia uma unidade de doutrina e desconhecia-se uma lei escrita até os dias de Josias. As fontes jeovista e eloísta teriam sua forma plenamente desenvolvida no período dos reinos divididos entre Judá e Israel (onde surgiria também a versão conhecida como Pentateuco Samaritano). O livro de Deuteronômio só viria a surgir no reinado de Josias (621 a.C.). A Torá como conhecemos viria a ser terminada nos tempos de Esdras, onde as diversas versões seriam finalmente fundidas. Vemos então o início de práticas que eram desconhecidas da maioria dos antigos israelitas, e que só seriam aceitas como mandamentos na época do Segundo Templo como a Brit milá, Pessach e Sucót por exemplo.
Conteúdo
Em Bereshit é narrada a criação do mundo e do homem sob o ponto de vista judaico, e segue linearmente até o pacto de Deus com Abraão. São apresentados os motivos dos sofrimentos do mundo, a constante corrupção do gênero humano e a aliança que Deus faz com Abraão e seus filhos, justificados pela sua fé monoteísta, em um mundo que se torna mais idólatra e violento. Nos é apresentada a genealogia dos povos do Oriente Médio, e as histórias dos descendentes de Abraão, até o exílio de Jacó e de seus doze filhos no Egito.
Em Shemot mostram-se os fatos ocorridos neste exílio, quando os israelitas tornam-se escravos na terra do Egito, e Deus se manifesta a um israelita-egípcio, Moisés, e o utiliza como líder para libertação dos israelitas, que pretendem tomar Canaã como a terra prometida aos seus ancestrais. Após eventos miraculosos, os israelitas fogem para o deserto, e recebem a Torá dada por Deus. Aqui são narrados os primeiros mandamentos para Israel enquanto povo (antes a Bíblia menciona que eram seguidos mandamentos tribais), e mostra as primeiras revoltas do povo israelita contra a liderança de Moisés e as condições da peregrinação.
Em Vaicrá são apresentados os aspectos mais básicos do oferecimento das korbanot, das regras de cashrut e a sistematização do ministério sacerdotal.
Em Bamidbar continuam-se as narrações da saga dos israelitas no deserto, as revoltas do povo no deserto e a condenação de Deus à peregrinação de quarenta anos no deserto.
Em Devarim estão compilados os últimos discursos de Moisés antes de sua morte e da entrada na Terra de Israel.
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