“De um ponto de vista
autenticamente católico, o recurso arquitetônico antigo, para a salvação das
almas, deveria voltar”. Sobre a Comunhão de pé, Comunhão na mão e outros
erros monumentais.
Grace Kelly
(Princesa
Grace de Mônaco recebendo a Sagrada Comunhão da maneira católica).
Há alguns anos, o Papa Bento XVI decretou que todas as pessoas que
comungassem com ele deveriam se ajoelhar e receber a Sagrada Comunhão sobre a
língua. Esta prática era a norma universal antes do Concílio Vaticano II,
porém, foi amplamente rejeitada pela maioria dos bispos após o Concílio. A
presente opção ou permissão de receber a Sagrada Comunhão de pé e na mão tem
contribuído bastante para a crise de fé e a perda do sentido do sagrado. O Papa
agora está tentando reverter essa tendência chamando os católicos de volta a um
sentido forte de sua própria identidade.
Pe. Regis Scanlon, OFM, disse uma vez
que "a doutrina da Presença Real de Jesus Cristo na Eucaristia é uma
daquelas verdades maravilhosas pelas quais o Cristianismo resplandece como uma
religião de mistérios que excede muitíssimo a capacidade da mente humana. A
Igreja Católica definiu o dogma da Presença Real ao afirmar que Jesus Cristo
está presente inteiramente sob as aparências de pão e vinho após as palavras de
consagração na Eucaristia."1
A recepção da Sagrada Comunhão na Missa sempre foi um momento de
tremenda reverência, tradicionalmente precedida pelo soar de sinos, incenso e
silêncio. Infelizmente, existem muitos católicos que não acreditam mais na
Presença Real. Sem dúvida, isso se deve à diminuição – e em alguns casos, a
exclusão – desses e de muitos outros símbolos e sinais de adoração. Um símbolo
de adoração que foi eliminado é o recurso arquitetônico chamado Mesa de
Comunhão.
A Mesa de Comunhão (também chamada de
comungatório) foi introduzida nas igrejas católicas no século IX. Sua
finalidade era separar o santuário do restante da igreja e separar aqueles cuja
função é realizar a ação sacramental dos que formam a congregação da celebração
– uma separação que foi sempre considerada como essencial para a constituição
da Igreja. Essa separação estava relacionada à compreensão antiga do sacerdote
como o intermediário designado entre Deus e as pessoas. O comungatório
tornou-se mais conhecido como mesa de Comunhão na Idade Média, quando os fiéis
começaram a receber a Comunhão de joelhos de maneira mais generalizada. Esse
desenvolvimento orgânico se deu a partir de um sentido de reverência e
humildade mais premente com relação à Eucaristia.
Para aqueles que não
estão familiarizados com a mesa de Comunhão – e, sem dúvida, muitos hoje em dia
nunca a usaram –, é um recurso arquitetônico que separa o santuário do corpo da
igreja e, geralmente, é feito de mármore ou algum outro material precioso. Um
pano branco e limpo de linho fino, que, geralmente, ficava preso no lado do
comungatório que dava para o santuário geralmente era estendido ao longo da
mesa de comunhão antes da distribuição da Sagrada Comunhão; sua finalidade era
atuar como um tipo de corporal para receber quaisquer partículas que por acaso
pudessem cair das mãos do sacerdote. O comungante então pegava o tecido com
ambas as mãos e o segurava sob o queixo. Há evidências que sugerem que algo na
natureza de um corporal era usado mesmo nos primeiros dias do cristianismo. Em
épocas mais modernas, um acólito desempenhava a mesma função segurando uma
patena sob o queixo de cada comungante.
Até mesmo o Santo Padre Pio recebia a Comunhão de
joelhos e sobre a língua. Será que ele não era "iluminado" quanto
nós?
No momento da Comunhão podemos quase visualizar o comungatório como uma
mesa comprida, que existe ao longo e em frente do Altar do Sacrifício – uma
mesa onde o povo de Deus pode partilhar do banquete de Nosso Senhor como se
estivesse presente em sua Última Ceia; uma mesa onde, ao mesmo tempo, podemos
estar presentes ao sacrifício incruento da Paixão de Nosso Senhor, como se
estivéssemos verdadeiramente ajoelhados diante de Nosso Senhor no Calvário,
prontos para recebê-Lo e participar em seu Sacrifício. Que incrível!
Compare isso com as rubricas de hoje que permitem que se fique de pé
para a Comunhão. O que percebemos? No momento da Comunhão, o comungante toma a
hóstia do padre com as suas próprias mãos – como se quisesse negar ou minimizar
a consagração das mãos do sacerdote ocorrida na ordenação.
Muitos comungantes hoje em dia saem da
frente da igreja sem mesmo reconhecer, fazendo uma inclinação, que ele ou ela
recebeu algo – ou Alguém – sagrado. Nenhuma precaução é tomada para garantir
que partículas do Corpo e Sangue de Nosso Senhor não se percam. Absolutamente
escandaloso! E ainda assim é isso que muitos de nossos peritos litúrgicos e
bispos permitem e até mesmo promovem hoje em dia. É como se a Missa fosse um
pouco mais do que uma reunião social ou um local para reunir alguns amigos.
Infelizmente, a decisão de retirar as
mesas de Comunhão veio pouco tempo depois do Concilio Vaticano II e parece ter
sido uma iniciativa tomada em nível local para introduzir mudanças
arquitetônicas que foram consideradas necessárias para implementar as reformas
litúrgicas do Concílio. Enquanto algumas igrejas deixaram as mesas de Comunhão
intactas, em grande parte, elas caíram em desuso e, em geral, as construções de
novas igrejas não as inclui.
Teóricos litúrgicos
alegavam, juntamente com o chamado do Vaticano II a uma “participação plena e
ativa de todas as pessoas" na liturgia, que a mesa de Comunhão separava a atividade
do clero da passividade dos leigos a quem eles incorretamente
acreditavam estivessem excluídos da celebração. Daí, a retirada das mesas de
Comunhão foi considerada necessária, a fim de formar um espaço integrado ou
unificado que retiraria o enfoque do padre e o redistribuiria igualmente a cada
membro da assembleia. Isso significa, incidentalmente, que, embora a Igreja
continue acreditando que os acólitos conduzam à produção de vocações
sacerdotais, as meninas agora deveriam ser incluídas dentre suas fileiras, uma
vez que qualquer forma de discriminação pode ser vista como divisão.
Deus nos perdoe!
Entretanto, neste ponto, tudo que é essencial para a fé católica na
Missa começa a se deteriorar. Por exemplo, o sacerdote não é mais visto como um
intermediário, mas sim como o “presidente" que agora deve "se
voltar" para as pessoas, ao invés de se voltarem para a cruz de Cristo 2
– como acontecia com a Missa em Latim. O Papa Bento XVI, alega em seu livro, O
Espírito da Liturgia, que "o sacerdote que se volta para a comunidade
forma, juntamente com ela, um círculo fechado em si. A sua forma deixou de ser
aberta para cima e para frente; ela encerra-se em si própria."3
Sem essa "abertura para cima e para frente", para Deus, o
Sacrifício da Missa se torna um pouco mais do que uma refeição comum, em que
também é importante que nós "nos autocomunguemos" ao receber o Corpo
e o Sangue de Cristo na Sagrada Comunhão, usando as nossas mãos. Isso é
especialmente verdadeiro sempre que – como frequentemente ocorre – um membro do
laicato toma as Hóstias do sacrário e as dá ao sacerdote e a outros membros do
laicato para distribuição. Dizem-nos que isso ajuda a "despertar no
cristão um sentido de dignidade pessoal."4 Como um testamento
adicional a esta “dignidade” igualitária também se torna necessário ficar de pé
ao receber a Sagrada Comunhão, o que, por as vez, elimina qualquer motivo
adicional para conservar a mesa de comunhão. Muitos se lembrarão como a prática
de ficar de pé para a Sagrada Comunhão foi rigorosa e arbitrariamente imposta
após o Vaticano II até que se tornasse uniformemente arraigada no laicato.
Com quanta frequência escutamos desde o Vaticano II que a “genuflexão
não combina com a nossa cultura ... Não é certo que um homem crescido faça
isso... ele deve olhar para Deus de pé". Ou novamente: "Não é
apropriado que um homem redimido – ele foi liberto por Cristo e não precisa se
ajoelhar nunca mais." Entretanto, é muita presunção agir como se já
tivéssemos recebido a nossa recompensa celeste antes que a tenhamos efetivamente
recebido. Embora muitos na Igreja neguem que o orgulho esteja envolvido neste
caso, creio que este seja o “pecado da presunção" elevando a sua horrorosa
cabeça. São Paulo (Fil 2; 12) nos diz que devemos trabalhar a nossa salvação em
temor e tremor.
O
Papa Bento disse que "a genuflexão dos cristãos não é uma forma de
inculturação em costumes existentes. Muito pelo contrário, trata-se de uma
expressão da cultura cristã, que transforma esta cultura através de um
conhecimento e experiência de Deus novos e mais profundos." 5
Ajoelhar-se advém do conhecimento de Deus. Como o Papa nos lembra,
"a palavra proskynein sozinha ocorre cinquenta e nove vezes no Novo
Testamento, vinte e quatro das quais estão no Apocalipse, o livro da liturgia
celeste, que é apresentado à Igreja como o padrão para a sua liturgia." 6
O Papa Bento dá um exemplo de como a
genuflexão, prática essa que nos anos recentes, como o Sinal da Cruz, está
caindo em desuso dentro da Igreja. Em seu livro O Espírito da Liturgia,
o Papa fala de uma "história que provêm dos ditos dos Padres do Deserto,
de acordo com a qual o demônio foi compelido por Deus a mostrar-se a um certo
Abba Apollo. Ele tinha a aparência enegrecida e feia, com membros magros e
assustadores, porém, o que mais chamava a atenção era que ele não tinha
joelhos. A incapacidade de ajoelhar-se é vista como a própria essência do
diabólico." 7
Não se trata de um
capricho da imaginação sugerir que, ao menos, teoricamente, aqueles que
abandonaram a genuflexão durante a recepção da Sagrada Comunhão tenham
efetivamente abandonado a Bíblia – porque se alguém não se ajoelha perante o
Senhor, quando é que essa pessoa se ajoelha? O Santo Padre assinala também que
"o homem que aprende a crer, aprende também a se ajoelhar, e uma fé ou uma
liturgia não mais familiarizada com a genuflexão estaria doente em seu
núcleo." 8
Como ousam!
Embora os teóricos litúrgicos, designers
e consultores modernos afirmem que a sua nova teologia reflete a mente da
Igreja, não há documento eclesiástico algum contra a mesa de Comunhão ou algum
documento que sancione a sua retirada das igrejas. O que o Vaticano disse é que
"Quando os fiéis comungam de joelhos, nenhum outro sinal de reverência
diante do Santíssimo Sacramento é obrigatório, uma vez que o próprio
genuflectir é um sinal de adoração. Quando eles recebem a comunhão de pé, é
altamente recomendado que, vindo em procissão, eles devam fazer um sinal de
reverência antes de receber o Santíssimo Sacramento." 9
Em sua carta pastoral sobre a
reverência eucarística, Dom John Keating de Arlington, Virginia, escreve:
"Nenhuma postura corporal expressa de maneira tão clara a reverência
interior da alma perante Deus quanto o ato de genuflectir. Reciprocamente, a
postura de genuflectir reforça e aprofunda a atitude de reverência da
alma." 10
Portanto, ajoelhar-se é a postura máxima de adoração, submissão e
entrega. Na Igreja Católica fazemos
genuflexão e nos ajoelhamos para indicar, através de um gesto corporal, uma
submissão total de nossas mentes e corações à verdadeira Presença de Cristo.
Trata-se de uma manifestação exterior da reverência inspirada por Sua Presença.
A mesa de Comunhão é a divisória que separa o santuário da assembleia. Na
medida em que ela nos permite visualizar essa distância que separa o céu e a
terra, Criador e criatura, é um recurso arquitetônico que nos ajuda a superar o
orgulho humano, permitindo que nos aproximemos e recebamos Cristo na Eucaristia
com a disposição e reverência próprias. Em um sentido adicional – na medida em
que a noiva e o noivo são consagrados no santuário --, a mesa de comunhão
também pode ser vista como um reforço visual poderoso do sacramento do
Matrimônio.
A remoção das mesas de
Comunhão causou grande dor a muitos na Igreja. Ela desorientou muitas pessoas,
que, com justa razão – especialmente à luz da perda recente e avassaladora da
fé na Eucaristia como Presença Real – temiam que o próprio cerne da fé católica
fosse comprometido. Uma vez que a Missa culmina na administração da Comunhão, a
mesa de comunhão deveria ser vista como era – como um auxílio para a fé da mais
alta importância para os fiéis. De um ponto de vista autenticamente católico, o
recurso arquitetônico antigo, para a salvação das almas, deveria voltar.
Notas:
1. Padre Regis Scanlon, O.F.M.,
Capítulo "Piedade Eucarística: Uma Forte Recomendação" (Theotokos, o
boletim do Clube Católico da Aurária).
2 Ou, mais precisamente, o Oriente.
Para citar o Monsenhor Klaus Gamber: "O que na Igreja primitiva e durante
a Idade Média determinou a posição do altar foi que ele estava virado para o
Oriente. Para citar Santo Augustinho, "Quando nos levantamos para rezar,
nos voltamos para o Oriente, onde começa o Céu. E fazemos isso não porque Deus
esteja lá, como se Ele tivesse se distanciado de outras direções na terra...,
mas sim para nos ajudar a lembrar a voltar nossas mentes em direção a uma ordem
superior, ou seja, para Deus". Klaus Gamber, A Reforma da Liturgia Romana,
Una Voce Press, Califórnia, 1993, p.80 no capítulo, "Missa Versus
Populum".
3. Cardeal Joseph Ratzinger, O
Espírito da Liturgia (San Francisco: Ignatius Press, 2000), p. 80.
(doravante citado como O Espírito da Liturgia ).
4. Comunicação Interna da Conferência
Canadense de Bispos Católicos, 23 de março de 1970.
5. O Espírito da Liturgia. p.
185.
6. Ibid.
7. Ibid., p.
193.
8. Ibid., p.
194.
9. Eucharisticum Mysteriumis,
1967.
10. Carta Pastoral sobre a Reverencia
Eucarística, 4 de dezembro de 1988.
1 Ação de graças
§1359
A Eucaristia, sacramento de nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é
também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No
sacrifício eucarístico, toda a criação amada por Deus é apresentada ao Pai por
meio da Morte e da Ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o
sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, de belo
e de justo na criação e na humanidade.
2
Fonte e ápice da vida eclesial
§1324
A Eucaristia é "fonte e ápice de toda a vida cristã ". "Os
demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas
apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a
santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o
próprio Cristo, nossa Páscoa ."
3 Memorial
§1357
Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao
fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua
criação, o pão e o vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de
Cristo se tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna real e
misteriosamente presente.
§1362
A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta
sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele.
Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da
instituição, uma oração chamada anamnese ou memorial.
4 Presença
§1373
"Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que
está à direita de Deus e que intercede por nós" (Rm 8,34), está presente
de múltiplas maneiras em sua Igreja): em sua Palavra, na oração de sua Igreja,
"lá onde dois ou três estão reunidos em meu nome" (Mt 18,20), nos
pobres, nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o autor,
no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas "sobretudo (está
presente) sob as espécies eucarísticas".
§1374
O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a
Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja "como que o
coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os
sacramentos". No santíssimo sacramento da Eucaristia estão "contidos
verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com
a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo
todo" . "Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as
outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque
por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo."
§1375
É pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se
torna presente em tal sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a
fé da Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da ação do Espírito Santo para
operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:
Não
é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem Corpo e Sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura
de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e a graça são de Deus.
Isto é o meu Corpo, diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas.
E
Santo Ambrósio afirma acerca desta conversão:
Estejamos
bem persuadidos de que isto não é o que a natureza formou, mas o que a bênção
consagrou, e que a força da bênção supera a da natureza, pois pela bênção a
própria natureza mudada. Por acaso a palavra de Cristo, que conseguiu fazer do
nada o que não existia, não poderia mudar as coisas existentes naquilo que
ainda não eram? Pois não é menos dar às coisas a sua natureza primeira do que
mudar a natureza delas.
5 Sacrifício.
§1362
A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental
de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as
orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma
oração chamada anamnese ou memorial.
§1363
No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos
acontecimentos dos acontecimento do passado, mas a proclamação das maravilhas
que Deus realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses
acontecimentos toma-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que
Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os
acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória dos crentes, para que
estes conformem sua vida a eles.
§1364
O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a
Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício
que Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual:
"Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual
Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa redenção."
§1365
Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O
caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da
instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós", e
"Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por
vós" (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que,
entregou por nós na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para
remissão dos pecados" (Mt 26,28).
§1366
A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o
Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:
[Cristo]
nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo
como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens)
uma redenção eterna. Todavia, como sua morte não devia pôr fim ao seu
sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, "na noite em que foi entregue (1
Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível
(como o reclama a natureza humana) em que seria representado (feito presente) o
sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas uma única vez na cruz,
sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos (l
Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados
que cometemos cada dia.
§1367
O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício:
"É uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos
sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de
oferecer difere". "E porque neste divino sacrifício que se realiza na
missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta
no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este
sacrifício é verdadeiramente propiciatório".
§1368
A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de
Cristo, participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida
inteira. Ela se une à sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na
Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de
seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua oração, seu
trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim um
valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as
gerações de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta. Nas
catacumbas, a Igreja é muitas vezes representada como uma mulher em oração, com
os braços largamente abertos em atitude de orante. Como Cristo que estendeu os
braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os homens, por meio dele,
com ele e nele.
§1369
A Igreja inteira está unida à oferta e à intercessão de Cristo. Encarregado do
ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a cada celebração da
Eucaristia em que ele é mencionado como sinal e servidor da unidade da Igreja
universal. O Bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando
é presidida por um presbítero; seu nome é nela pronunciado para significar que
é ele quem preside a Igreja particular, em meio ao presbitério e com a
assistência dos diáconos. A comunidade intercede assim por todos os ministros
que, por ela e com ela, oferecem o Sacrifício Eucarístico:
Que
se considere legítima só esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo
ou daquele a quem este encarregou. É pelo ministério dos presbíteros que se
consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em união com o sacrifício de Cristo,
único mediador, oferecido em nome de toda a Igreja na Eucaristia pelas mãos dos
presbíteros, de forma incruenta e sacramenta até que o próprio Senhor venha.
§1370
À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra,
mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima
Virgem Maria e fazendo memória dela, assim como de todos os santos e santas,
que a Igreja oferece o Sacrifício Eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com
Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oferta e à intercessão de Cristo.
§1371
O Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos "que
morreram em Cristo e não estão ainda plenamente purificados", para que
possam entrar na luz e na paz de Cristo:
Enterrai
este corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo o
que vos peço é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que
estejais.
Em
seguida, oramos [na anáfora] pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em
geral por todos os que adormeceram antes de nós acreditando que haverá muito
grande benefício para as almas, em favor das quais a súplica é oferecida,
enquanto se encontra presente a santa e tão temível vítima. (...) Ao
apresentarmos a Deus nossas súplicas pelos que adormeceram, ainda que fossem
pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo imolado por nossos pecados, tomando
propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.
§1372
Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma
participação cada vez mais completa no sacrifício de nosso redentor, que
celebramos na Eucaristia:
Esta
cidade remida toda inteira, isto é, a assembleia e a sociedade dos santos, é
oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a
forma de escravo, chegou a ponto de oferecer-se por nós em sua paixão, para
fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão grande. (...) Este é o sacrifício dos
cristãos: "Em muitos, ser um só corpo em Cristo" (Rm 12,5). E este
sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no sacramento do altar bem
conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si
mesma
Santíssimo Sacramento
1 Adoração e culto do Santíssimo
Sacramento
§1178 A liturgia das Horas, que é como
que um prolongamento da celebração eucarística, não exclui, mas requer de
maneira complementar as diversas devoções do Povo de Deus, particularmente a
adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.
§1183 O tabernáculo (ou sacrário) deve
estar localizado "nas igrejas em um dos lugares mais dignos, com o máximo
decoro". A nobreza, a disposição e a segurança do tabernáculo eucarístico
devem favorecer a adoração do Senhor realmente presente no Santíssimo Sacramento
do altar.
O Santo Crisma (Mýron = perfume
líquido) que, usado na unção, é sinal sacramental do selo do dom do Espírito
Santo, é tradicionalmente conservado e venerado em um lugar seguro da igreja.
Perto dele pode-se colocar o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.
§1418 Visto que Cristo mesmo está
presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo com um culto de adoração.
"A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um sinal de
amor e um dever de adoração para com Cristo, nosso Senhor. "
§2691 Lugares favoráveis à oração
A Igreja, casa de Deus, é o lugar
próprio para a oração litúrgica da comunidade paroquial. E também o lugar
privilegiado da adoração da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. A
escolha de um lugar favorável é importante para a verdade da oração:
* para a oração pessoal, pode ser um
"recanto de oração", com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas,
para aí estar "no segredo" diante do Pai. Numa família cristã, essa
espécie de peque no oratório favorece a oração em comum;
* nas regiões onde existem mosteiros, a
vocação dessas comunidades é favorecer a partilha da Oração das Horas com os
fiéis e permitir a solidão necessária a uma oração pessoal mais intensa;
* as peregrinações evocam nossa
caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de
renovação da oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas
fontes vivas, lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas
da oração cristã.
2 Presença real de Cristo no Santíssimo
Sacramento
§1374 O modo de presença de Cristo sob
as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os
sacramentos e faz com que da seja "como que o coroamento da vida
espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos". No santíssimo
sacramento da Eucaristia estão "contidos verdadeiramente, realmente e
substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de
Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo" . "Esta
presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem
'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo,
Deus e homem, se toma presente completo."
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