martes, 1 de noviembre de 2011

A Paixão de Cristo

Reconstrução do aramaico beira a perfeição
"É de causar surpresa o resultado da reconstrução do aramaico falado no filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo", afirmou em artigo especial para a Folha de S. Paulo, o professor da USP, Reginaldo Gomes de Araújo.
Segundo Araújo, além do trabalho de tradução do roteiro em inglês para o aramaico feito pelo jesuíta William Fulco, os atores tiveram um treinamento para articular o aramaico sem o sotaque do inglês, o que nem sempre é fácil.

"A tarefa complicou-se porque é uma língua que teria sido falada por Jesus, embora ninguém saiba ao certo de que forma Jesus falava o aramaico".



Segundo Fulco, baseado na literatura em aramaico antigo, como o aramaico bíblico dos livros de Daniel e Esdras, literatura targúmica e séculos de siríaco e hebraico, foi possível realizar a reconstrução do aramaico do tempo de Jesus.

A pronúncia utilizada no filme, para o professor doutor de Aramaico do Departamento Letras Orientais da USP, aproxima-se muito da palestinense. É um tipo de aramaico que remete ao aramaico bíblico dos livros de Daniel e Esdras e ao aramaico targúmico. Característica desse grupo ocidental é a preferência pelo som vocálico "a", que pode ser ouvido durante todo o filme, e não o som de "o" que é típico das regiões mais orientais.

Outra característica é o uso dos sufixos pronominais, fenômeno típico das línguas semíticas quando usam o que chamamos de pronomes pessoais do caso oblíquo, que se escutam nesses diálogos (por exemplo, o "khon" que aparece na fala de Jesus referindo-se ao pronome de segundo pessoa plural).

Origem do aramaico
A língua aramaica, juntamente com o acádico árabe e fenício, constitui a família de língua semítica dos habitantes das tribos nômades do deserto da Síria. O aramaico surgiu na região do deserto da Síria. Chegou a ser língua franca -- como é hoje o inglês -- e passou a ser usada na Palestina como língua principal. Segundo a tradição judaica, o aramaico foi falado por Adão (Sanhedrin 38b) e foi a língua materna de Jesus e de numerosos rabinos do Talmude e Midrash.

Por ter sido uma língua dominante no mundo judaico, explica o professor da USP, textos importantes foram escritos em aramaico. Partes do Antigo Testamento estão em aramaico. Muitos rolos de Qumran, encontrados nos anos 50, nas proximidades do Mar Morto, estão em aramaico. Hoje ainda é usada na liturgia da igreja siro-ortodoxa.

Aramaico vem do termo "aram", nome do quinto filho de Sem, o primogênito de Noé (Gn 10,21). Foi também usado como nome de um lugar quatro mil anos atrás. O livro do Gênesis menciona lugares chamados de Paddam-Aram e Aram-Naharaim. Mas não há referências diretas ao povo aramaico (arameu) até o século 11, quando o soberano assírio Tiglat Falasar 1º (1115-1103) deparou-se com eles na sua expedição militar ao longo do Eufrates. Era um povo pequeno. Formou reinos independentes, primeiro na Síria e depois se expandiu até o Golfo Pérsico.

O aramaico falado por Jesus já não existe mais, mas uma moderna versão é falada por pequenos grupos no Oriente Médio, é o aramaico moderno. É falado em diversas cidades próximas de Damasco (Síria), a maior sendo Ma'lula, e também por alguns cristãos no sudeste da Turquia, presentes em Tur'Abdin, além de alguns de milhares de imigrantes que vivem nos EUA e na Europa, concluiu Reginaldo Gomes de Araújo.

Fonte:
Reginaldo Gomes de Araújo é de professor doutor de aramaico do Departamento Letras Orientais da FFLCH-USP. Artigo especial para a Folha de S. Paulo (19/03).


http://www2.uol.com.br/bibliaworld/noticias/redacao/jorge_pinheiro/015.htm

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