sábado, 26 de noviembre de 2011

Estruturas antropológicas do imaginário- o mito

      O antropólogo Joseph Campbell realizou um estudo detalhado sobre a presença da mitologia no universo humano e chegou a interessantes conclusões: Todas as narrativas, conscientes ou não, surgem de antigos padrões do mito e todas as histórias podem ser traduzidas e dissecadas na Jornada do Herói. Em seus estudos sobre mitos mundiais, ele descobriu que todos eles são a mesma história, porém contadas com inúmeras variações e adaptadas à realidade de quem a conta. Seus detalhes são diferentes em cada cultura, mas, fundamentalmente, são sempre iguais. Ainda declara Campbell, ?...toda cultura antiga e pré-moderna utilizava uma técnica ritmada para contar histórias retratando os protagonistas e antagonistas com certas motivações e traços de personalidade constantes, num padrão que transcende as fronteiras da língua e da cultura?.
        Pela grande influência das culturas do entretenimento e do consumo, junto com os avanços científico e tecnológico da raça humana, os mitos tiveram sua importância significativamente reduzida, uma vez que a cultura moderna colocou sua fé na ciência e na religião. Consequentemente, por vários séculos o surgimento de novos mitos foi praticamente nulo. Porém, com a remodelagem do cinema em produções ricas e com grandes efeitos visuais, os mitos novamente ganharam seu espaço, agora não contados de pai para filho como acontecia antigamente, mas através de meios audiovisuais, e difundidos ao redor do mundo.                             .
         No final dos anos 70, um jovem cineasta americano, admirador de Joseph Campbell, resolveu criar uma nova mitologia, que pertencesse ao mundo em que vive e, com elementos do seu tempo. Esse cineasta chamava-se George Lucas, conhecido hoje por inúmeros filmes de sucesso, mas, principalmente, pela concepção da trilogia de Guerra nas Estrelas (Star Wars), que apresenta elementos estudados e escritos por Campbell, em sua obra O Herói de Mil Faces. Então, qual a razão do grande sucesso de bilheteria causado pelo filme na época em que foi lançado? A razão foi a composição da história e dos personagens da história, repletos de simbologia e ligações com aspectos psicológicos. Temos a presença do herói, que Campbell cita em sua obra, seguindo sua jornada, no início do filme na etapa denominada Chamado à Aventura e termina na Ressurreição e na volta com o Elixir, etapas são detalhadas no livro.

O mito para Joseph Campbell

       Com as revoluções burguesas é certo que se fez luz onde antes havia trevas, mas também se fez trevas onde antes havia luz. O indivíduo já não é parte de nada, o estado e a "ética dos negócios" regem todos os dias da semana enquanto a religião é mera pantomima aos domingos. O universo intemporal dos símbolos entrou em colapso.

       A comunidade é o mundo e os sentimentos de nacionalidade, que antes costuravam o ser no mundo, hoje servem apenas de desculpa para insuflar egos, impor uma cultura em detrimento de outras. A ideia de nação que antes era um elemento aniquilador do ego infantil - a medida que inseria o indivíduo no grupo - hoje serve como elemento engrandecedor. Com o triunfo do estado secular as religiões, associadas aos interesses de facções, servem apenas como instrumentos de autocongratulação e propaganda. Esse estado e suas relações de poder tornaram-se tão eficientes e disseminadas por todo o globo que as religiões todas assumiram uma posição secundária.

      Mas o indivíduo é limitado, especializado inclusive no seu trabalho, um homem nunca pode ser tudo ou ser completo. Do grupo é que vieram sua língua, sua cultura, suas ideias, seu passado e até os genes que o formam. Se decidir romper esses vínculos ele rompe com as fontes de sua existência. Do ponto de vista da unidade social, o indivíduo que se exilou ou se revoltou é nada. Mas aquele que puder dizer que desempenhou seu 'papel' na comunidade (seja ele rei ou prostituta) pode dizer que é algo, no pleno sentido do verbo ser. A função dos mitos e das cerimônias nas sociedades tribais é traduzir as mudanças e crises da vida do indivíduo em "formas clássicas impessoais". Ao mostrar o indivíduo a si mesmo como uma parte dessa sociedade ele encontra sua totalidade. E a sociedade inteira se torna visível a si mesma como unidade viva imperecível.

       Joseph Campbell, assim como Benjamin, considera que a humanidade se distancia dos mitos. Mas difere ao considerar que a tarefa do herói moderno é trazer a tona uma nova simbologia. O herói moderno deve, contra toda corrente, sem esperar recompensa ou aplauso, empreender uma busca solitária. O mistério crucial de nossos dias não é o mundo, mas o próprio homem. A ideia de uma lei cósmica a qual toda existência está submetida, hoje - com a descida das ciências ocidentais à terra (da astronomia à biologia) e com a concentração dos estudos no homem - é aceita em termos mecânicos e os mistérios que o mito representava perderam sua força.

       Devem todas as forças do egoísmo chegar a um acordo e "o ego deve ser crucificado e ressuscitado e à cuja imagem a sociedade deve ser reformada". No entanto nenhum dos ideais ou instituições de qualquer povo ou cultura irá configurar-se como medida única, como essência definitiva do que é a vida. Os novos mitos não serão idênticos em cada parte do globo, cada circunstância da vida local irá contribuir para compor um símbolo efetivo. "A verdade é uma só, mas os sábios falam dela sob muitos nomes".

1-CAMPBELL, Joseph. O mito e o mundo moderno. In: O poder do mito: com Bill Moyers. Organizado por Betty Sue Flowers. São Paulo: Palas Athena,1990, pp.1-13 e p. 14-28.

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