1. Grafia:
O alfabeto latino é o mesmo da língua portuguesa, excetuando-se aquelas letras de origem anglo-germânica (k, y, w). As vogais e consoantes têm a mesma classificação e são grafadas da mesma maneira, tanto nas maiúsculas como nas minúsculas.
2. Pronúncia:
A pronúncia do latim tem sofrido, nos muitos países em que é estudado, adaptações às características fônicas da respectiva língua nacional. Essa pronúncia, que se cristalizou no decorrer dos séculos em cada país, é chamada hoje de pronúncia tradicional. No Brasil, tem tido ampla difusão não só a pronúncia portuguesa, mas também, através da Igreja, a pronúncia de influência romana hodierna.
Estudos lingüísticos que têm sido realizados, desde o século XIX, pelos comparativistas levaram a reconstituir aquela pronúncia que teria sido a da elite culta de Roma no período clássico de sua literatura (nos dias de Cícero, Horácio, Vergílio); essa pronúncia é conhecida hoje como restaurada ou reconstituída.
Traços comuns à pronúncia restaurada e à tradicional portuguesa
a) o u semiconsoante de qu e gu soa w de qual; ex.: quis [kwis], quinque [kwinkwe], distinguere [distingwere].
b) x soa ks de léxico; ex.: lux [luks], dixi [diksi], nexus [neksus].
c) z soa dz de dzeta; ex.: zelus, zephyrus.
Particularidades da pronúncia reconstituída
a) As vogais breves têm timbre aberto: lĕuis [léwis], mŏdus [módus]; as longas, timbre
fechado: amōrem [amôrem], dēbēre [dêbêre].
b) Ae e oe, ditongos, soam respectivamente ay de pai (ex.: aequālis [aykwalis], seruae
[serway]) e oy de coisa (ex.: poena [poyna]).
c) C, Q e K soam k de cabo (ex.: Cicĕro [Kikero], accipĕre [akkipere], caelum [kaylum], quem [kwem], Kalendae [kalenday]; G soa g de guerra (ex.: gĕnus [genus], gentes [gentes]).
d) S soa sempre surdo, como s de fossa; ex.: rŏsa, formōsus, spirĭtus.
e) V soa w (ex.: uinum [winum], uiuĕre [wiwere]).
f) T tem o som de tatu; ex.: iustitĭa [yustitia], natiōnem [nationem].
g) H é sinal de ligeira aspiração; ex.: hŏmō, hōra.
Particularidades da pronúncia tradicional portuguesa
a) E e O têm sempre timbre aberto, mesmo quando longos; ex.: brĕuis, mŏdus; tōtus, uōx.
b) Ae e oe, ditongos, soam respectivamente e de pé (ex.: caelum, seruae) e e de lê (ex.: poena.
c) Ti soa si de palácio (ex.: oratiō).
d) H é mudo (ex.: homō).
N.B. A Igreja Católica mantém aproximadamente a pronúncia corrente entre os séculos V e VI de nossa era, mas com algumas modificações devidas à influência do italiano (ae, oe = ê, c e g antes de e ou i = ch ou tch ou dj; gn = nh )
Os sons correspondentes às letras do alfabeto em latim têm a mesma característica da pronúncia em português, com algumas pequenas diferenças, que apresentamos a seguir:
2.1. As vogais devem ser pronunciadas com o som original da letra, mesmo quando não são tônicas. Por exemplo: em português, a palavra "belo" pronuncia-se ''bélu''; já em latim, a palavra ''bello'' pronuncia-se ''bélo''. Em português, a palavra ''triste'' pronuncia-se ''trísti''; já em latim, a palavra ''Christe'' pronuncia-se ''kríste''. A palavra ''objeto'' em português pronuncia-se ''objetu''; em latim, a palavra ''objecto'' pronuncia-se ''obiékto''. Isto é, as vogais são sempre pronunciadas com os seus sons originais. Note-se a existência dos grupos vocálicos 'oe' e 'ae', que são pronunciados como 'e' aberto. Por exemplo, 'coelum' pronuncia-se 'célum'; 'laetitia' pronuncia-se 'letícia'.
Convém observar que no português que se fala em Portugal, diferentemente do que se fala no Brasil, as palavras ainda conservam a consoante que tinham na sua forma original do latim, por exemplo, 'objecto', 'facto', 'acto', 'subjectivo', acontecendo o mesmo também em espanhol. Isto significa que as mutações ocorridas na língua portuguesa no território brasileiro findaram por criar uma variação linguística ainda mais distanciada da fonte latina comum a todos nós.
2.2. Algumas consoantes assumem sons diferentes, conforme o caso:
2.2.1. A letra ''t'' antes de ''i'' tem som de ''s'', quando a sílaba não é tônica. Ex.: ''gratia'' pronuncia-se ''grássia''; ''locutio'' pronuncia-se ''locússio''; ''fortiori'' pronuncia-se ''forsióri''.
2.2.2. A letra ''j'' tem sempre som de ''i''. Ex.: ''jus'' pronuncia-se ''iús''; ''Jesus'' pronuncia-se ''iésus''; ''jacta'' pronuncia-se ''iácta''.
2.2.3. O grupo consonantal ''ch'' tem som de ''k''. Ex.: ''machina'' pronuncia-se ''mákina''; ''charitas'' pronuncia-se ''káritas'';
''chorda'' pronuncia-se ''kórda''.
2.2.4. O grupo consonantal ''gn'' tem som de ''nh''. Ex.: ''ignis'' pronuncia-se ''ínhis''; ''cognosco'' pronuncia-se ''conhósco''; ''regnum'' pronuncia-se ''rénhum''.
2.2.5. O grupo consonantal ''ph'' tem som de ''f'', igual ao português arcaico.
3. Algumas características da fraseologia latina:
3.1. Não há artigos definidos e indefinidos.
3.2. Em geral, não há palavras oxítonas.
3.3. É usual ficarem palavras ocultas (subentendidas).
3.4. O verbo geralmente fica no final da oração.
3.5. A regência dos verbos nem sempre corresponde ao português.
4. O uso das consoantes 'j' e 'v' na língua latina:
Os romanos da época de Cícero (século I a.C.) não conheciam os sons correspondentes às consoantes 'j' e 'v', utilizando as letras 'i' e 'u', respectivamente. Só a partir do século XVI, nos dicionários e livros escolares começaram a aparecer estas consoantes na grafia das palavras, todavia a pronúncia continuou sendo correspondente à das vogais 'i' e 'u'. Isto quer dizer que estas consoantes não pertencem ao latim clássico, mas foram já uma influência reversiva das línguas latinas sobre a língua mãe.
Esta alteração, porém, justamente por ser considerada uma influência das línguas européias sobre o latim original, é rejeitada por alguns estudiosos mais puristas.
A disseminação da escrita do latim com as letras 'j ' e 'v' se deu, sobretudo, pela atuação da Igreja Católica, tendo em vista que o latim é ainda hoje a sua língua oficial, e o estudo do latim nas escolas sempre foi orientada pelo latim eclesiástico.
No hay comentarios:
Publicar un comentario