domingo, 4 de septiembre de 2011

O alfabeto latino: regras básicas de escrita e pronúncia


1. Grafia:



         O alfabeto latino é o mesmo da língua portuguesa, excetuando-se aquelas letras de origem anglo-germânica (k, y, w). As vogais e consoantes têm a mesma classificação e são grafadas da mesma maneira, tanto nas maiúsculas como nas minúsculas.



2. Pronúncia:



         A pronúncia do latim tem sofrido, nos  muitos países em que  é  estudado,  adaptações  às características  fônicas  da  respectiva  língua  nacional.    Essa  pronúncia,  que  se  cristalizou  no decorrer dos séculos em cada país, é chamada hoje de pronúncia tradicional.  No Brasil, tem tido ampla difusão não só a pronúncia portuguesa, mas também, através da Igreja, a pronúncia de influência romana hodierna.

         Estudos  lingüísticos  que  têm  sido  realizados,  desde  o  século  XIX,  pelos  comparativistas levaram  a  reconstituir aquela pronúncia que teria sido a da elite  culta de Roma  no  período clássico  de  sua  literatura  (nos  dias  de  Cícero, Horácio,  Vergílio);  essa  pronúncia  é  conhecida hoje como restaurada ou reconstituída.



Traços comuns à pronúncia restaurada e à tradicional portuguesa



a) o u semiconsoante de qu e gu soa w de qual; ex.: quis [kwis], quinque [kwinkwe], distinguere [distingwere].



b)  x soa ks de léxico; ex.: lux [luks], dixi [diksi], nexus [neksus].



c)  z soa dz de dzeta; ex.: zelus, zephyrus.



Particularidades da pronúncia reconstituída



a)  As vogais breves têm timbre aberto: lĕuis [léwis], mŏdus [módus]; as longas, timbre

fechado: amōrem [amôrem], dēbēre [dêbêre].

b)  Ae e oe, ditongos, soam respectivamente ay de pai (ex.: aequālis [aykwalis], seruae

[serway]) e oy de coisa (ex.: poena  [poyna]).

c)  C, Q e K soam k de cabo (ex.: Cicĕro [Kikero], accipĕre [akkipere], caelum [kaylum], quem [kwem], Kalendae [kalenday]; G soa g de guerra (ex.: gĕnus  [genus], gentes [gentes]).

d)  S soa sempre surdo, como s de fossa; ex.: rŏsa, formōsus, spirĭtus.

e)  V soa w  (ex.: uinum [winum], uiuĕre [wiwere]).

f)  T tem o som de tatu; ex.: iustitĭa  [yustitia], natiōnem [nationem].

g)  H é sinal de ligeira aspiração; ex.: hŏmō, hōra.



Particularidades da pronúncia tradicional portuguesa



a) E e O têm sempre timbre aberto, mesmo quando longos; ex.: brĕuis, mŏdus; tōtus, uōx.

b) Ae e oe, ditongos, soam respectivamente e de pé (ex.: caelum, seruae) e e de lê (ex.: poena.

c) Ti soa si de palácio (ex.: oratiō).

d) H é mudo (ex.: homō).





N.B.  A Igreja Católica mantém aproximadamente a pronúncia corrente entre os séculos V e VI de nossa era, mas com algumas modificações devidas à influência do italiano  (ae, oe = ê, c  e  g antes de e ou i = ch ou tch ou dj; gn = nh )



Os sons correspondentes às letras do alfabeto em latim têm a mesma característica da pronúncia em português, com algumas pequenas diferenças, que apresentamos a seguir:



2.1. As vogais devem ser pronunciadas com o som original da letra, mesmo quando não são tônicas. Por exemplo: em português, a palavra "belo" pronuncia-se ''bélu''; já em latim, a palavra ''bello'' pronuncia-se ''bélo''. Em português, a palavra ''triste'' pronuncia-se ''trísti''; já em latim, a palavra ''Christe'' pronuncia-se ''kríste''. A palavra ''objeto'' em português pronuncia-se ''objetu''; em latim, a palavra ''objecto'' pronuncia-se ''obiékto''. Isto é, as vogais são sempre pronunciadas com os seus sons originais. Note-se a existência dos grupos vocálicos 'oe' e 'ae', que são pronunciados como 'e' aberto. Por exemplo, 'coelum' pronuncia-se 'célum'; 'laetitia' pronuncia-se 'letícia'.



        Convém observar que no português que se fala em Portugal, diferentemente do que se fala no Brasil, as palavras ainda conservam a consoante que tinham na sua forma original do latim, por exemplo, 'objecto', 'facto', 'acto', 'subjectivo', acontecendo o mesmo também em espanhol. Isto significa que as mutações ocorridas na língua portuguesa no território brasileiro findaram por criar uma variação linguística ainda mais distanciada da fonte latina comum a todos nós.



2.2. Algumas consoantes assumem sons diferentes, conforme o caso:



2.2.1. A letra ''t'' antes de ''i'' tem som de ''s'', quando a sílaba não é tônica. Ex.: ''gratia'' pronuncia-se ''grássia''; ''locutio'' pronuncia-se ''locússio''; ''fortiori'' pronuncia-se ''forsióri''.



2.2.2. A letra ''j'' tem sempre som de ''i''. Ex.: ''jus'' pronuncia-se ''iús''; ''Jesus'' pronuncia-se ''iésus''; ''jacta'' pronuncia-se ''iácta''.



2.2.3. O grupo consonantal ''ch'' tem som de ''k''. Ex.: ''machina'' pronuncia-se ''mákina''; ''charitas'' pronuncia-se ''káritas'';



 ''chorda'' pronuncia-se ''kórda''.



2.2.4. O grupo consonantal ''gn'' tem som de ''nh''. Ex.: ''ignis'' pronuncia-se ''ínhis''; ''cognosco'' pronuncia-se ''conhósco''; ''regnum'' pronuncia-se ''rénhum''.



2.2.5. O grupo consonantal ''ph'' tem som de ''f'', igual ao português arcaico.





3. Algumas características da fraseologia latina:



3.1. Não há artigos definidos e indefinidos.



3.2. Em geral, não há palavras oxítonas.



3.3. É usual ficarem palavras ocultas (subentendidas).



3.4. O verbo geralmente fica no final da oração.



3.5. A regência dos verbos nem sempre corresponde ao português.





4. O uso das consoantes 'j' e 'v' na língua latina:



       Os romanos da época de Cícero (século I a.C.) não conheciam os sons correspondentes às consoantes 'j' e 'v', utilizando as letras 'i' e 'u', respectivamente. Só a partir do século XVI, nos dicionários e livros escolares começaram a aparecer estas consoantes na grafia das palavras, todavia a pronúncia continuou sendo correspondente à das vogais 'i' e 'u'. Isto quer dizer que estas consoantes não pertencem ao latim clássico, mas foram já uma influência reversiva das línguas latinas sobre a língua mãe.



       Esta alteração, porém, justamente por ser considerada uma influência das línguas européias sobre o latim original, é rejeitada por alguns estudiosos mais puristas.



        A disseminação da escrita do latim com as letras 'j ' e 'v' se deu, sobretudo, pela atuação da Igreja Católica, tendo em vista que o latim é ainda hoje a sua língua oficial, e o estudo do latim nas escolas sempre foi orientada pelo latim eclesiástico.

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