A este respeito, transcrevo alguns artigos da «Instrução Musicam Sacram», datada de 1967, do Papa Paulo VI. No N.º 47, declara:
"Conforme a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, «conservar-se-á o uso da língua latina nos Ritos Latinos, salvo direito particular» (Const. «Sacrosanctum Concilium», N.º 36, §1). «Mas, como o uso da língua vernácula é muito útil ao povo em não poucas ocasiões" (idem, N.º 36, §2), "será da incumbência da competente Autoridade Eclesiástica Territorial determinar se deve usar-se a língua vernácula e em que extensão; estas decisões têem que ser aceites, isto é, confirmadas pela Sé Apostólica» (ibid., N.º 36, §3). «Os pastores de almas cuidarão de que, além da língua vernácula, os fiéis sejam capazes também de recitar, ou cantar juntos, em latim, as partes do Ordinário da Missa que lhes pertencem»" (ibid., N.º 54).
E, no N.º 51, diz a mesma Instrução:
"Tendo em conta as condições locais, a utilidade pastoral dos fiéis e o carácter de cada língua, os pastores de almas julgarão se as peças do tesouro de Música Sacra compostas, no passado, para textos latinos, além da sua utilização nas Acções Litúrgicas celebradas em latim, podem, sem inconveniente, ser utilizadas também naquelas que se realizam em vernáculo. Com efeito, nada impede que, numa mesma celebração, algumas peças se cantem em língua diferente".
Já no séc. XIX, Dom Prosper Guéranger — Abade restaurador de Solesmes e grande liturgista — considerava a Liturgia como "um poema transbordante de lirismo" e nunca deixou de se erguer contra a exigência de inteligibilidade universal, fruto do racionalismo, à qual é imputável, no séc. XVIII, a insipidez de inspiração de tantas composições literárias, destinadas à Igreja. Ora, nas suas formas tradicionais autênticas, a Liturgia está cheia de poesia e de Mística. D. Guéranger argumentava assim, em favor do latim, que é a língua oficial da Igreja Católica Romana:
"Se é importante que a língua dos livros Litúrgicos seja fixa e inviolável, que não seja puramente nacional, está também na sua natureza ser misteriosa; o que não deve ser é vulgar. É um sentimento universal, porque é fundado na natureza, aquele que leva a velar as coisas Santas, sob a sombra das palavras misteriosas... Todas as Sagradas Escrituras carregadas de figuras — às vezes, tão ousadas — cheias, de uma ponta à outra, de alusões arrancadas ao Oriente, será sempre, para o vulgo, apesar das traduções, um Livro misterioso... O mais profundo conhecimento dos Livros Santos em nada diminui o exercício da Fé... Ora, se assim é para as Sagradas Escrituras, por que não o será também, e por mais forte razão, para a Liturgia, na qual se operam os Mistérios que os Livros Santos se limitam a anunciar?" («Instituições Litúrgicas», Tomo III, Cap. III, pg. 75-76). .
E também:
"O Latim não é a única língua da Igreja, pois no Oriente, existem Liturgias em Grego e em Russo antigos; mas é a mais espalhada. Para a quase totalidade do Mundo Católico, o Latim é a língua da Unidade" (Abade Léon Rouyet, «Le Lutrin», Ed. 1953, N.º 1, pg. 10).
O próprio Papa S. Pio X afirmou:
"A língua própria da Igreja Romana é o Latim. É, portanto, proibido, nas funções solenes do Culto, cantar, seja o que for, em língua vulgar; é-o, mais ainda, cantar em língua vulgar as partes variáveis, ou comuns, da Missa e do Ofício" («Motu Proprio», III, §7).
Hoje, perante a actual postura do Clero post-Conciliar, podemos afirmar que a Igreja se passou, de um extremo ao outro, radicalmente oposto!Padres há, que dizem que a «Instrução Musicam Sacram» e outros documentos Conciliares estão “ultrapassados”! Pois bem: apresentem-me um novo documento — que terá que ser, inevitàvelmente, uma nova «Instrução sobre Liturgia e Música Sacra», promulgada pelo Papa — e então… eu me renderei perante a evidência de tal e tão eminente documento! O que sucede, pura e simplesmente, é que não há nenhum documento oficial da Igreja que tivesse revogado a citada «Instrução Musicam Sacram»… pelo que, de momento, ponto final no assunto!
A língua oficial da Igreja primitiva era o Aramaico. Com a expansão da Igreja, em direcção à Europa Central e, mais tarde, para o Ocidente (cerca de metade do séc. III), impuseram-se, respectivamente, o Grego e o Latim: – como este dominava a vida civil na capital do Império Romano, também se foi impondo, gradualmente, na Liturgia
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