viernes, 1 de abril de 2011

OS DOCUMENTOS CONCILIARES SOBRE OS TEXTOS EM VERNACULO





Diz a
«Instrução Musicam Sacram», no N.º 54:

"Ao estabelecer as traduções populares que hão-de ser musicadas especialmente, a tradução do Saltério os peritos cuidarão de assegurar bem a fidelidade ao texto latino, com a aptidão para o canto do texto em língua vernácula. Respeitar-se-ão o carácter e as leis de cada língua; ter-se-ão em conta também os costumes e o carácter peculiar de cada povo: na preparação das novas melodias, os músicos hão-de ter muito presentes estes dados, juntamente com as leis da Música Sacra (...)".                                 .

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Quão longe se está do cumprimento de tais normas!

As adaptações usadas, quer para o «Ordo Missae», quer para o «Leccionário», quer até mesmo, para os cânticos em língua vulgar, deixam muito a desejar… e, a maior parte das vezes, nem sequer respeitam o texto oficial Latino! Os textos ditos «oficiais» enfermam, constantemente, pela ausência total de poesia e musicalidade, pelo que, sem estes dois elementos primordiais, tais textos são absolutamente inaceitáveis, quer para a proclamação da Palavra de Deus, quer, com muito maior razão, para o canto dos Salmos!
Há que por em prática as normas estabelecidas nos documentos Conciliares, nomeadamente, a «Instrução Musicam Sacram», assim como a Constituição «Sacrosanctum Concilium» (do Concílio Vaticano II) e, necessário sendo, consultar mesmo o «Motu Proprio» de S. Pío X, cujos princípios básicos mantêem actualidade e força de lei, documento no qual foi inspirada a elaboração da actual Instr. «Musicam Sacram», de Paulo VI, que consagra o Canto Gregoriano como "o canto próprio da Igreja Latina", o qual, "em igualdade de circunstâncias com outros géneros Musicais, ocupará sempre o primeiro lugar".
No entanto, devo advertir para o triste facto de proliferarem por aí muitos grupos Corais que se intitulam de "gregorianistas", mas que, de facto, não têem a mínima ideia do que é o Canto Gregoriano, porquanto revelam uma ignorância total da rítmica e da expressividade muy peculiar deste mesmo canto, que se pauta pelo isocronismo dos tempos, ou seja, os tempos, em Canto Gregoriano têem todos igual duração, não cabendo aí "subdivisões", ao contrário do que sucede na música «mensurada».
Exemplos do que acabo de afirmar são, entre outros: a «Schola Hungarica», a «Cappella Musicale di S. Petronio di Bologna», o «Deller Consort», «The Tallis Scholars», «La Capella Reial de Catalunya», de Jordi Savall (todos estes grupos especializados em Música Antiga, mas, de modo nenhum, em Canto Gregoriano), o Grupo «SaggitariVs» (de França), dirigido por Michel Laplénie, o «Coro Gregoriano de Evora» (exclusivamente feminino) e o «Coro Gregoriano de Lisboa» (masculino, mas dirigido pela Prof.ª Maria Helena Pires de Matos: no caso concreto deste último, é inadmissível a maneira como interpreta o repertório Gregoriano, sobretudo, tendo em atenção que vários desses elementos receberam uma formação séria, segundo os princípios da velha Escola de Solesmes, princípios estes hoje renegados pelas teorias modernistas do «mensuralismo». Entre duas, uma: ou esses senhores não fazem a mínima ideia do que é o Canto Gregoriano e, deste modo, poderão beneficiar de algum perdão para os erros crassos que, constante e sistemàticamente, cometem ou então, o que fazem é premeditado e, nesse caso, insultam, deliberadamente, o Canto Gregoriano, o que é imperdoável! Há que denunciar tais barbaridades!!! Não podemos pretender confundir «Semiologia» e/ou «Paleografia» com técnica[s] de interpretação Gregoriana, nem muitíssimo menos sob tal pretexto, tentar destruir pela base, e de raiz, todo o «Método de Solesmes»: ora, é precisamente isso o que fazem os modernistas, apologistas das teorias de Dom Eugène Cardine).
Porém, embora nos possa parecer estranho, nada disto nos surpreenda, porquanto estamos perante um movimento, a nível Internacional, apostado na destruição total do Canto Gregoriano e, por analogia, da própria Igreja. Infelizmente, hoje em dia, já pràticamente, em nenhuma Escola, Seminário, ou Mosteiro se lecciona e/ou se pratica o verdadeiro Canto Gregoriano, antes bem pelo contrário, na maior parte dos casos, se difunde o «anti-gregoriano», através das falaciosas teorias «cardinistas» e/ou, pior ainda, dos chamados «mensuralistas», o que é inaceitável!
Por simpatia, o «Cardinismo» ao pretender "ignorar" o «ictus» rítmico conduz, fatalmente, ao «Mensuralismo». De facto, a maior parte dos «cardinistas» que conheço já praticam o «Mensuralismo», como é o caso de alguns elementos da «Schola Antiqua», de Madrid (Grupo este, que segue as "teorias" de D. Cardine).
Portanto, para se por em prática as determinações da Santa Madre Igreja, no que concerne à Música Litúrgica, comece-se òbviamente e, em primeiro lugar por se formar e manter uma «Schola» Gregoriana, segundo os princípios do autêntico e verdadeiro Canto Gregoriano, ou seja, o «Método de SOLESMES», de Dom Mocquereau. Exemplos de boas «Scholae» são:
o Coro da «Escola Saint Grégoire de Le Mans» (em França, que, sob os auspícios da Santa Sé, ascendeu ao Estatuto de Academia Internacional de Música Sacra);
o Coro de monges da Abadia Benedictina de Notre-Dâme de Fontgombault (também em França, pertencente à Congregação de Solesmes);
a «Schola» e o «Coro Palestrina» do antigo «Centro de Estudos Gregorianos» (mais tarde, «Instituto Gregoriano de Lisboa», quando da oficialização deste Estabelecimento de Ensino), dirigidos, respectivamente, pela Prof.ª D.ª Júlia d'Almendra e pelo Prof. Antoine Sibertin-Blanc, nos quais tive a honra de participar:
lamentàvelmente, por causa de conflitos havidos entre a Sr.ª D.ª Júlia d'Almendra e a «Comissão Instaladora» do Instituto, ambos os Coros foram extintos!;
os Corais «Stella Vitae» e «Renovação», de Lisboa (exclusivamente masculinos), dirigidos outrora, pelos Maestros Jorge Manzonni e António Leitão e, actualmente, por João Branco e João Luís Ferreira, respectivamente, ambos membros do Coro da «Fundação Calouste Gulbenkian», de Lisboa. João Branco dirige também o «Coro Polifónico de Almada»; João Luís Ferreira é também regente Coro «Vox Canonica» (o Coral «Stella Vitae» era constituído, inicialmente, por antigos seminaristas, e/ou seminaristas com, pelo menos, um ano de Seminário, estendendo, mais tarde, a sua admissão a leigos).
O repertório de ambos os Coros engloba, além do Gregoriano, a Polifonia Renascentista "a Capella", com especial incidência, não só em Palestrina e Tomás Luís de Vittoria, mas também nos polifonistas portugueses, nomeadamente, D. Pedro de Cristo;
o «Coro de Santa Maria de Belém» (da Igreja dos Jerónimos, em Lisboa, dirigido pelo Prof. Fernando Pinto, tendo como assistente, desde 1995, Miguel Farinha, o qual frequentou as «Semanas Gregorianas» de Fátima): fundado em 1990 e constituído por cerca de uma trintena de elementos de ambos os sexos, tem feito um excelente trabalho de educação vocal e de interpretação de um variado e magnífico repertório, quer em Acções Litúrgicas, quer em audições de carácter espiritual e, inclusivamente, com a colaboração dos organistas Prof. Sibertin-Blanc, António Mota e António Esteireiro e do «Grupo de Metais» de Lisboa;
o Grupo Vocal «Ançã-ble» (pequeno coro de vozes mixtas, dirigido pelo P. Pedro Miranda): estupenda execução de um requintado repertório vocal "a Capella" (no entanto, não me posso pronunciar sobre este Grupo, no que concerne ao Gregoriano, por nunca ter tido oportunidade de verificar como e se o cantam e, como tal, não dispor de dados para fazer um juízo a esse respeito);
o «Coral Vértice» e o «Coro Solemnis» (exclusivamente masculinos, constituídos por cantores do Coro da «Fundação Gulbenkian» e antigos seminaristas): o primeiro foi regido pelo Maestro João Crisóstomo, estando, actualmente, a sua direcção a cargo de Sérgio Fontão, membro efectivo do supra-mencionado «Coro Gulbenkian», e licenciado em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa. Quanto ao «Coro Solemnis», é dirigido por João Crisóstomo;
e a «Capela Gregoriana Laus Deo» (de Lisboa, exclusivamente feminina), regida pela Prof.ª Idalette García Giga: excelente interpretação de um vasto repertório Gregoriano, segundo os princípios da velha e autêntica «Escola de Solesmes»;                            .

Outros bons Coros (baseando-me, ùnicamente, no que, em tempos, pude apreciar e/ou em outras informações) eram e passo a citar:
o «Audite Nova», de Lisboa (sob a regência de Fernando Cardoso, que fez os seus estudos musicais no antigo «Centro de Estudos Gregorianos»). Este Coro nasceu na Igreja Paroquial de S. João de Brito de Lisboa, em Alvalade, onde actuou durante alguns anos, nas Acções Litúrgicas e em Audições de carácter Espiritual, chegando a estar subdividido em Coro de adultos e Coro de jovens e crianças;
o «Públia Hortênsia» (dirigido pelo Maestro Paulo Brandão e procedente do antigo «Coro da Basílica da Estrela», em Lisboa, que foi regido, anteriormente, por Francisco d'Orey, Jorge Manzonni, Manuel Brito e João Crisóstomo).
Tendo o Coro saído da Paróquia, salvo erro, em 1972/73, para se formar o «Públia Hortênsia», constituiu-se, cerca dos anos 1975/76, na mesma Basílica, uma pequena
«Schola Cantorum» exclusivamente masculina (absolutamente independente do Coro anterior) que se dedicava, entre outros géneros Musicais, à prática do Canto Gregoriano, segundo o «Método de Solesmes»:                         .
infelizmente (em plena época de grandes tensões político-sociais e de grave crise que já grassava no seio da Igreja post-Conciliar) e, devido a sérias dissensões com a Hierarquia Eclesiástica, esta «Schola» optou pela sua auto-extinção, em Novembro de 1978, cerca de dois meses após a tomada de posse do novo Prior;
o «Regina Coeli» (também de Lisboa, sob a direcção de António Lourenço);
o «Coro da Universidade de Lisboa» (que foi regido pelos Maestros Francisco d'Orey, José Robert e, salvo erro, também por Fernando Eldoro);
e o antiquíssimo «Orfeón Académico de Coimbra» (outrora dirigido por Raposo Marques e, mais tarde, pelo Prof. Joel Canhão: felizmente, tive a oportunidade de assistir a alguns "Saraus" promovidos por esta Entidade e, ainda hoje, me recordo, com alguma nostalgia, do inolvidável e emocionante «Amen» da ópera «A Danação de Fausto» de Berlioz, com que o Orfeón finalizava sempre as suas actuações: esta peça imortal ficou célebre no seu repertório!).
Ignoro se alguns dos Grupos Corais mencionados ainda hoje existem (excepto, òbviamente, aqueles de cuja extinção tenho conhecimento e que referi, ut supra), porque, já há muito tempo que não tenho notícias sobre actividades organizadas pelos mesmos, para poder pronunciar-me sobre eles. No entanto, não queria, de modo algum, deixar de os mencionar, como pontos de referência obrigatória da boa Música Coral em Portugal.

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